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RENAN MARCONDES

COMO UM JABUTI MATOU UMA ONÇA E FEZ UMA GAITA DE UM DE SEUS OSSOS

renan marcondes COMO UM JABUTI MATOU UMA ONÇA E FEZ UMA GAITA DE UM DE SEUS OSSOS

source:sp-artecom
A performance apresenta ao público a imagem de um corpo masculino subjulgado por um objeto: um sapato de salto alto laranja cujo salto é uma estaca de 30 centímetros. Impossibilitado de ficar em pé e ocupar uma posição ereta, masculina e dominadora, esse corpo transita lentamente pelo plano horizontal através de uma coreografia que condensa imagens referentes à uma objetificação da mulher. A partir da transformação do sapato e da sua colocação em um corpo masculino, o trabalho levanta questões referentes a identidade de gênero e ao papel dos objetos nesse processo.
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source:pivoorgbr
Renan Marcondes é artista plástico, performer e pesquisador. Doutorando pela ECA USP com pesquisa sobre neoliberalismo, performance e presença. Seu trabalho articula coreografia, escultura e pesquisa teórica para pensar sobre a genealogia e as atuais formas de funcionamento da arte da performance a partir de situações patéticas de corpo. É também membro fundador do Pérfida Iguana, pólo de produção em dança contemporanea criado em parceria com a bailarina Carolina Callegaro.

Seus principais projetos incluem Protetores de Proximidade Humana (prêmio MAJ SESC 2015; Temporada de Projetos do Paço das Artes; prêmio aquisição 43º SARP), Como um jabuti matou uma onça e fez uma gaita de um de seus ossos (ProAc 2015, prêmio do setor de performances da sp arte 2015) e PROJETO INVISÍVEL (em processo). Em 2018 foi contemplado com o prêmio de criação em residência para jovens coreógrafos no MIS SP. Com seu trabalho prático e téorico, já participou de mostras como VERBO, Bienal Sesc de Dança, Mostra Internacional de Teatro, Abre Alas, dentre outras. Suas exposições individuais incluem: Contra Corpo (Oficina Cultural Oswald de Andrade, 2015), O que o corpo abriga (CAAA, Portugal, 2017) e Fundo Falso (Instituto Adelina, 2018).
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source:atravestv
De nome enigmático e premiada no último SP-Arte, a performance de Renan Marcondes é uma das atrações do #MOVIMENTA2 – a mostra de performances da Galeria Mezanino.
Calçando um par de sapatos laranjas cujo salto é uma estaca de 30 centímetros, o performer transita lentamente pelo chão. Impossibilitado de ficar em pé e ocupar uma posição ereta, masculina e dominadora, Renan desenvolve movimentos coreográficos cujo universo imagético alude a objetificação da mulher, questões referentes a identidade de gênero e ao papel dos objetos nesse processo.

A performance é uma reflexão sobre os lugares existentes entre sujeito e objeto – ou “dominador” e “dominado” – e como esses lugares são sempre transitórios. Grande parte da pesquisa de Renan se debruçou sobre a figura do artista Andy Warhol e da feminista radical Valerie Solanas, que tentou matá-lo com três tiros no peito. Para ele, essa situação, assim como as duas figuras, são exemplos desse embate: um artista homossexual e tímido que se torna uma figura absoluta de poder e influência através da aceitação total (ou cínica) de um sistema capitalista e uma mulher radical e idealista que pretende uma interferência direta nesse sistema (através da morte de uma figura que o sintetiza) e acaba presa em um manicômio acusada de loucura.

Nasceu desse embate o desejo de sintetizar em seu corpo algumas contradições dessas figuras, criando um corpo que não direciona nenhum discurso empoderador, mas que se pergunta sobre os lugares de poder.

A simbologia ligada à performance pode tanto relacionar-se ao movimento queer, pelo uso do salto no corpo de um homem (mas esse salto é tão grande e pontudo que o sujeito nada pode fazer além de rolar no chão); pode estar ligada ao feminismo (porém é contraditoriamente um homem reproduzindo alguns gestos e imagens próprios das representações femininas na história da arte); pode ser ligada ao fetiche que impregnamos os objetos, pois o performer conta que o sapato muitas vezes é mais notado que a própria ação corporal.

Premiada na edição do SP-Arte deste ano, a performance rendeu a ele uma residência artística de 2 meses no Instituto Sacatar, localizado na Ilha de Itaparica, na Bahia. É possível conferi-la novamente na #MOVIMENTA2: