PEEPING TOM
32 rue vandenbranden
source: teatrojornal
A companhia foi criada em 2000 e seu quarto espetáculo, 32 rue Vandenbranden (2009), talvez seja o que melhor traduza filosófica e cenicamente o seu nome: Peeping Tom. Segundo a lenda britânica de Lady Godiva, do século XXI, a mulher do administrador de uma cidade pedia a ele para baixar os impostos dos camponeses e o marido só o fez sob a seguinte condição: se desfilasse nua sobre um cavalo. Abraçada à causa, lá foi ela. Calhou de Peeping Tom ser o único par de olhos masculino a mirar aquele corpo, ainda que sob as frestas de uma janela, e por isso perdeu a visão. A condição de voyeur é trabalhada no palco sem o automático enquadramento temático e formal do cinema, mas fazendo uso dessa linguagem em sua transcendência pelas imagens, pela atmosfera etérea, conduzindo o espectador a uma viagem original em procedimentos da dança e do teatro rumo à ascese.
O roteiro de ações físicas é inspirado no filme japonês A balada de Naraiama (1983), de Shohei Imamura, aquele de imagens dilacerantes, como a do filho carregando a mãe nas costas, abraçados pelo vento, subindo a montanha para pousá-la no cume até a morte, como reza a tradição local de que todo septuagenário deve ter igual destino. No mesmo vilarejo do final do século XIX, pais costumavam vender bebês para sobreviver. Essas misérias material e espiritual não aportam literais no palco. Antes, são essencialidades que tornam o espetáculo um fabuloso poema visual escrito no e com o corpo e o espaço cenográfico. A música também é celebrada à altura, com instantes como a suíte O pássaro de fogo, de Stravinski, e a canção Shine on you crazy diamond, da banda Pink Floyd.
Pode haver melodia e letra mais clichês para apoiar um movimento em dança ou uma cena no teatro, em 2012, do que um hit da banda inglesa de rock progressivo explorada em muitas criações? Pois na sequência em que a soprano Eurudike De Beul canta, o ouvido, o coração e o olhar do espectador convergem para o sentimento de abandono que toma conta dos seis moradores das casas adaptadas em trailer ou contêiner na encosta de uma montanha, uma paisagem de nuvens escurecidas em que o chão e os tetos estão forrados de neve. É do alto de uma dessas moradias que Eurudike posiciona-se, pairando sua voz, como se dos céus, sobre a cabeça de homens e mulheres quem brincam feito crianças ou digladiam como se estivessem numa arena de feras.
A concepção dos diretores Gabriela Carrizo e Franck Chartier valoriza a gestualidade existencial tragicômica para uma narrativa convencional: forasteiros chegam a uma comunidade de códigos cerrados e contaminam seus habitantes da mesma forma que são contaminados por solidões, medos, violências, desconfianças, paixões, recalques e alguma solidariedade difusa. À noção fluída de coreografia na qual a virtuose dos solos não os isola, a obra avança também para uma dramaturgia de subtextos, assinada pela dupla Nico Leunen e Hildegard de Vuyst. A sobreposição de imagens de fundo e de primeiro plano concede ao público autonomia em sua percepção da narrativa.
Há um componente sensorial no ato de observar as cenas de corpos em contínua transmutação para traduzir diálogos silenciosos, conflitos passionais, invejas de vizinhança, rasgos emocionais, o amor de perdição. O talento do núcleo de dançarinos e atores-criadores desenha essas figuras flutuantes e pesadas com recursos que suscitam a linguagem do circo (contorcionismo, ilusionismo) ou da dança butô japonesa no lirismo e na treva.
O tipo físico dos artistas reflete suas nacionalidades: Jos Baker é britânico; Seoljin Kim e Hun-Mok Jung, sul-coreanos; Sabine Molenaar, holandesa; Marie Gyselbrecht e a cantora Eurudike De Beul, belgas. Os diretores Gabriela e Chartier também são de nacionalidades distintas: ela é argentina e ele, francês. Todos radicados na Bélgica, país fértil em trabalhos referencias nas artes cênicas do mundo (Needcompany, Rosas, les ballet C de la B, Ultima Vez, etc). Boa parte desses criadores integrou algumas dessas companhias. Curiosamente, a dançarina brasileira Maria Carolina Vieira, ex-integrante do grupo catarinense Cena 11 [ela segue vinculada ao núcleo, comenta abaixo], passou por audição da Peeping Tom em fevereiro e agora compõe o elenco do espetáculo em revezamento com Sabine, que dançou em Bogotá [quem dançou foi a própria Maria Carolina, ela me corrige abaixo]. Tendo estreado seu quinto espetáculo no ano passado, A louer (para alugar), a companhia permanece inédita no Brasil, uma pena.
Um dos trunfos da Peeping Tom é expressar fortemente o rosto dos seus corpos, rosto ao ar livre ou emoldurado pelas janelas e luzes interiores das casas, humanizando a técnica não como fim em si mesma, mas ponte para uma fábula de alcance universal e em nada facilitadora, a constatar a complexidade/perplexidade dos seres em jogo. E na vida: o espetáculo é dedicado à dançarina, atriz e poeta Maria Otal (1927-2009), que colaborou com a criação e morreu dez dias antes da estreia. Atuar é sempre uma cerimônia de adeus.
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source: cultuurbewustnl
Peeping Tom, a Brussels collective with veterans from Les Ballets C. de la B. and Needcompany, has in a very short time acquired a permanent place on the Brussels dance scene. Peeping Tom represents a brazen mixture of theatre, live music and dance. In short, total theatre that is both heartwarming and surprising. Le Jardin, Le Salon and Le Sous Sol have all been shown in the KVS and this season we will be presenting a rerun of the whole trilogy.
In LE SOUS SOL we are literally taken one floor down to a place under the ground. All the family members are dead and buried. They find themselves in a strange world where social codes no longer exist. Everything is said with humour and there are no taboos, fears or reproaches. Everything is possible. Or is it? What encounters can we expect to experience in the hereafter?
Last year Le Sous Sol was selected for the Theaterfestival ’07.
“Le Sous Sol lies somewhere between farce and nightmare, between naturalism and dream. Their dancing is spectacular and acrobatic.” (La Libre Belgique)
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source: elpais
La belleza de la diferencia es, más que una consigna, una necesidad para los miembros de Peeping Tom, la compañía de danza contemporánea belga que ha revolucionado los escenarios con su trilogía sobre la familia y el paso del tiempo. Ahora, por primera vez, se atreven a representar las tres piezas seguidas. La cita será el sábado en el teatro Central de Sevilla y supone cinco horas de espectáculo -incluidos dos descansos de unos 35 minutos- en las que el público podrá abandonarse a las emociones que les proponen una peculiar familia representada por actores desde los cuatro años, edad de la pequeña Uma Chartier, a los 80 años de la actriz Maria Otal.
La compañía ha dicho que ésta será la primera y la última vez que representan los tres espectáculos el mismo día, pero no sabemos si aparecerá otro programador tan persuasivo como Manuel Llanes, del Central, y repetirán la hazaña. Para quien no se atreve, como público, a enfrentarse a la trilogía integral, Peeping Tom ofrece también los espectáculos por separado. Le jardin, la primera parte que crearon en 2002, se ofreció ayer; hoy podrá verse Le salon, de 2004, y mañana llegará Le sous sol (El sótano). La pieza que cierra la trilogía es de 2007 y es estreno en España.
Peeping Tom es un colectivo de artistas de procedencias y formaciones heterogéneas que nació en Bruselas en 2000 al calor de las enseñanzas de Alain Platel, fundador del Ballet C de la B. Su trabajo incluye cine, teatro, danza, lenguaje corporal, propuestas plásticas, cantantes de lírica, música en directo… todos los recursos puestos a disposición de una historia. “Nuestra danza no se limita al movimiento y a la abstracción, sino que presentamos una narración en un espacio siempre muy definido”, explicaba ayer Gabriela Carrizo, argentina de 37 años, y una de las fundadoras de Peeping Tom. Gabriela llegó a Europa en 1989, ávida de conocer el trabajo de las grandes figuras como Pina Bausch. “La idea era venir, echar un vistazo y volverme, pero aquí estoy”, dice Carrizo, quien instaló su “base” en Bruselas y trabajo con varias compañías hasta que en 1994 se unió al grupo de danza-teatro de Alain Platel.
“Estuve varios años y coincidí con Franck Chartier”, apunta. Junto a Chartier se embarcó en un proyecto que va más allá de lo profesional. La pareja, padres de la niña que sale a escena en Le salon, creó junto a otros tres artistas Caravana, un espectáculo que se desarrollaba en una caravana real y que fue el germen de Peeping Tom.
“Pienso que lo que cautiva al público es la simbiosis que hacemos y que, en cierta medida, muchos se siente reconocidos en las tensiones familiares que ponemos en escena”, apunta Gabriela Carrizo.
El camino del actor-bailarín Simon Versnel, holandés de 61 años, ha sido totalmente distinto. “Durante 20 años fui trabajador social en Rotterdam, pero actuaba y cantaba en grupos amateurs. Cuando cumplí los 40 me planteé dejarlo todo y dedicarme al teatro. Sabía que si no lo hacía me arrepentiría toda la vida. Tuve la suerte de que en 1991 me vio actuar Jan Lauwers, de la Needcompany de Bruselas, y me invitó a unirme a ellos”, recuerda Simon Versnel, un hombre alto y fornido que baila y se emociona en escena y dice sentirse a gusto con su cuerpo, incluso cuando está desnudo.
“El trabajo fue maravilloso, pero yo estaba harto de tantas giras y en 2001 decidí dejar la Need, fue entonces cuando Franck y Gabriela me pidieron que me uniera al proyecto. Pero resulta que he viajado aún más que con la Need”, comenta con una sonrisa.
Franck Chartier, francés de 40 años, es otra de las sólidas columnas sobre las que se sustenta Peeping Tom, una compañía que crea de forma colectiva. Chartier dejó la competitividad del ballet de Maurice Béjart para abrazar los métodos de Peter Goss y llegar, en 1995, a la Needcompany, de donde todo partió. “Cada vez que creamos un nuevo espectáculo pasamos cuatro meses sumergidos en una búsqueda muy profunda y a veces dolorosa. Estamos abiertos a todo”.