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janaina mello landini

ciclotrama

janaina mello landini  ciclotrama

source: mellolandini

Um Ciclotrama é a secção de um ciclo contínuo e binário, é uma estrutura esquemática, de caráter hierárquico, composta de partes interdependentes.

A coreografia criada pela torção ou entrelaçamento de linhas, ora soltas, ora atadas a outros suportes, resultam um corpo orgânico, à disposição de questões referentes às dinâmicas, aos fluxos, às trajetórias e à passagem do tempo.

Ora soltos no espaço, ora utilizando-se de outros suportes, as Ciclotramas se oferecem ao espectador como um lugar de relações rítmicas. Pode ser que, metaforicamente, se assemelhem às estruturas da natureza, como as raízes de uma planta, ramos neurais, ou estruturas microscópicas, ou que ainda representem o mapeamento de caminhos e movimentos individuais, criando uma cartografia social, mas o resultado é sempre um feixe orgânico composto de partes interdependentes e interligadas.
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source: zippergaleria

Existem poéticas do espaço e espaços poéticos – e isso não necessariamente tem há ver com as habilidades compositivas de algum arquiteto. Existem também lugares de afeto e afeto por lugares – e isso tampouco remete sempre a alguma beleza inequívoca da forma dos espaços. É que, no caso das espacialidades, afetos e poéticas derivam de vivências e de modos de constituição, respectivamente. Neste aspecto, importa menos a morfologia do que os modos como os espaços se tecem e vestem.
Sem precisar teorizar sobre isso, Janaina Mello Landini se coloca a tecer e vestir o espaço como quem faz e desenrola uma corda. Melhor, como quem desfaz uma corda que se esparrama e gruda nas paredes. Gruda, posto que é linha, amarrando-se a pregos. Muitos pregos, muitas linhas. Cada linha, um prego; e uma só corda que emaranha os pontos de partida dos vetores que atravessam as distâncias entre as paredes.
Diante dessa corda desfeita, destrama, ciclotrama de Janaina, é natural pensar na natureza das raízes das plantas, dos sistemas circulatórios dos corpos, das terminações nervosas dos neurônios, dos feixes elétricos dos raios e assim por diante. E, para quem o natural é o campo das ideias, é fácil passar daí às teorias rizomáticas da filosofia pós-estruturalista.

Mas desaceleremos nas metáforas que nos são sugeridas pelos isomorfismos para pensar mais no que está sendo destecido. As ações subsequentes da artista promovem uma relação peculiar entre um objeto e sua posição no espaço como parte integrante e constituinte dele. Vejamos. Se há uma corda sobre o chão da sala, ainda que a corda seja grossa e longa, a diferença de escala entre a sala e a corda permite identificar entre elas uma relação entre continente e conteúdo, borda e objeto. Porém, à medida que a corda se desmancha, espalha seus ramais e descola-se do chão, ela – embora mais fina – se afasta de algo que está “contido por” para algo que constitui o espaço. A corda, ao ocupar o ar em suas ramificações, fina e frágil, dá conta de alterar a percepção da sala. Antes de notar as paredes, antes mesmo de se dar conta de que existem paredes, as ciclotramas se apresentam como transparência e limite. Com efeito, não é possível entrar, pois elas fazem o espaço enquanto o tomam, vorazes.
A poética desse espaço, então, só pode ser aquela do campo pleno, que se confunde com sua própria visibilidade, no caso a visibilidade resultante do adensamento das linhas que ligam suas paredes. Por um lado, não há espaço para o visitante, ele está excluído da relação em que continente e conteúdo se equiparam em escala e presença. Por outro, o olhar persistente pode atravessar o emaranhado, alcançar detalhes da arquitetura e se perder, confundindo profundidades.

É e não é um vórtice. Na prática não é, porque as linhas não escoam para a corda, mas se expandem a partir dela, sucessivamente dividindo-se em progressão geométrica. Mas também é, como percepção, pois o olhar é tragado pela rede de fios. Quem quiser pode então perguntar: Trata-se de experimentação pura sobre as propriedades e possibilidades escultóricas de um material, a corda? Ou seria esta uma espécie de tratado empírico da natureza da percepção dos espaços? Ou uma metáfora de alguma narrativa implícita?
Respostas exclusivas parecem não caber bem no que diz respeito à arte, mas fico com a impressão de que o exercício da artista reflete, em primeiro lugar, os efeitos desorientadores que decorrem da transcrição para a realidade concreta de algo que, como modelo matemático, é muito simples. A cada bifurcação a linha se duplica – 2, 4, 8, 16… – e ao mesmo tempo divide sua espessura pela metade – 1, ½, ¼… No limite, haveria o zero, infinitas linhas de espessura zero. Mas zero é coisa de abstração matemática. Na prática, a teoria é outra. Ao invés de fazer referência ao mínimo, o que a ciclotrama enreda é um todo envolvente e sinuoso que toma o espaço e os sentidos de quem a observa.

Paulo Miyada

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source: thisiscolossal

Brazil-based artist duo Janaina Mello and Daniel Landini of Mello + Landini create tree-like installations with untwisted ropes fastened to the walls of galleries. Titled Ciclotramas, the artworks have gone through 17 different iterations since 2010, each involving some form of ropes that seem to branch through the air and splay onto surfaces like fractals or a network of neurons. The artists say they are interested in creating metaphors surrounding organic structures composed of both interrelated and independent parts, as well as the passage of time, and the “choreography of intertwining lines.”
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source: mellolandini

Janaina Mello Landini
São Gotardo – Brasil, 1974
Vive em São Paulo.

O trabalho da artista agrega seu conhecimento sobre a arquitetura (formou-se na UFMG 1999), a física e as estruturas organizadoras para tramar a sua visão do mundo. Suas obras transitam por diversas escalas – do objeto ao espaço público – e procuram se oferecer ao espectador como um lugar de relações rítmicas, explorando as diferentes facetas das nossas próprias trajetórias pessoais.

Tem mostrado seu trabalho em Exposições e Salões por São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Belém e Paraty e Itália, entre outros.

Participa do Ateliê Fidalga (www.ateliefidalga.com.br) desde junho 2013.

Em parceria com Daniele, forma a dupla MELLOLANDINI que tem realizado alguns projetos artísticos e tem colaborado com outros artistas como produtora, cenógrafa e designer de vídeo-objetos.

Daniele Francesco Landini
Milão – Itália, 1975
Vive em São Paulo.

Em 1999, se formou em Design de produto pelo Instituto Europeu de Design de Milão. Em parceria com Janaina, tem trabalhado nos próprios projetos artísticos desde 2009. Atuou como Designer de produto primeiramente na Itália, em 1995 e a partir 2005 no Brasil, hoje também atua como Sócio/Diretor na Agência NEW360.