Jodorowsky Alejandro and Moebius
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Dans un futur lointain, une autre galaxie ou un autre espace temps, l’Incal et l’immense pouvoir qu’il confère exacerbent toutes les convoitises. John Difool, minable détective de classe R adepte d’homéoputes et de bon ouisky se retrouve embarqué malgré lui dans cette course à l’Incal. Il aura affaire à des mouettes qui parlent, des extraterrestres idiots, un empire dictatorial ultra violent, des rats de 15 mètres commandés par une déesse nue, une bataille mémorable dans une fourmilière, une secte adepte des trous noirs, et enfin une bataille intersidérale entre le bien et le mal.
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Un jour, John Difool, ” minable détective privé de classe R “, s’est retrouvé en possession d’une étrange pyramide de cristal baptisée l’Incal. Il ne savait pas encore qu’il mettait le doigt dans un ” engrenage à emmerdements d’une taille réellement cosmique “… Une épopée fondatrice signée du duo Mœbius (pseudonyme de Jean Giraud) et Jodorowsky.
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O Incal Negro (1981) é o primeiro volume da série Incal, criada por Alejandro Jodorowsky (roteiro) e Moebius (arte). A trama deste primeiro livro é dividida em 5 capítulos, cada um com uma abordagem distinta para o que de fato está acontecendo na história e, principalmente, sobre o que é o Incal. Ou seja, falamos aqui de um volume curto que tem imediata indicação de sequência, mas que isoladamente apresenta uma introdução densa, complexa e muitíssimo bem realizada, introduzindo-nos de maneira enigmática ao Jodoverse, o universo de Jodorowsky nos quadrinhos do Incal.
A trama começa em Uma Noite no Anel Vermelho, quando somos apresentados ao detetive particular licenciado “Classe R” chamado John Difool. Ele está no Beco do Suicídio e é agredido por mascarados de um grupo chamado Amok, que está à procura do Incal. É em torno desse misterioso objeto que as coisas se estruturam e entre a descrença e o aprendizado da pior forma, o estranho protagonista tenta não ser morto. Em um resumo de gêneros, é como se lêssemos um motor dramático trazido dos filmes noir misturado com metafísica, sátira política e space opera, este último, algo que a excepcional arte de Moebius ilustra com um nível de detalhe, decadência e criatividade que nos faz passar o triplo do tempo em uma única página, só para observar todos os detalhes com o devido cuidado.
O peso da ficção científica posto em O Incal Negro está na gênese da parceria entre Jodorowsky e Moebius, iniciada no final de 1974, quando o primeiro liderava a produção de Duna, adaptação para o livro de Frank Herbert que, pelo enorme custo da produção (o filme teria Orson Welles e Salvador Dalí no elenco, além de música composta pelo Pink Floyd, dentre outros artistas), acabou sendo cancelada e retomada anos depois por Dino De Laurentiis, que a entregou a David Lynch. Do fracasso das filmagens de Duna restou a parceria entre Jodorowsky e Moebius, que combinaram de expandir as ideias que tiveram na ocasião para uma saga em um mundo ultra-tecnológico, moralmente questionável, cheio de contrastes estéticos (entre o luxo e o lixo) e com uma organização política e social surreais, para dizer o mínimo.
Não é difícil perceber que a jornada de John Difool e todo o bojo dramático do Incal segue os estágios do herói em O Herói de Mil Faces, do antropólogo Joseph Campbell. Essa jornada, inicialmente bem definida, ganha não só uma narrativa intricada e não necessariamente linear, mas também conceitos freudianos, jungianos, xamanistas e de outras ordens esotéricas, além de nomes vindos das cartas do tarô (como o do protagonista, “The Fool”) e elementos de física quântica.
Estágios da Jornada do Herói
Se toda essa gama de ingredientes é trabalhada com maior profundidade nos volumes seguintes da saga, aqui em O Incal Negro, ela serve como porta de entrada do leitor para um mundo em colapso, para uma realidade em mudança constante. O roteiro jamais facilita. Quando dissemos “porta de entrada”, não falamos, exatamente, de “história de origem” ou algo parecido. Ao terminar O Incal Negro, o leitor tem uma quantidade absurda de perguntas e tantos nomes, lugares e coisas para digerir que é bem difícil não querer ler de novo para poder captar melhor o sentido da história e tudo o que ela nos apresenta.
E por mais que saibamos que foi Jodorowsky quem cuidou do roteiro da série, é mais que evidente que houve a mão de Moebius na condução de caminhos narrativos para a história. Veja, por exemplo, o andamento dos capítulos A Dança do Incal e Sua Alteza Suprema, ambos com uma estrutura que nos lembram os enigmas, atalhos e amplo leque de histórias que o desenhista/roteirista costumava usar em aventuras como Arzach (1975 – 1976), A Garagem Hermética (1976 – 1979) e em uma outra parceria dele com Jodorowsky, Os Olhos do Gato (1979).
o incal negro moebius jodorowsky
Sabe aquela ideia de “anjinho” e “diabinho” que temos conosco? Bem… O Incal Negro nos ensina que não é só isso. E definitivamente não são anjinhos nem diabinhos…
Nos desenhos, Moebius faz uma grande mistura de concepção dos quadros e diagramação das páginas, com destaque para a fluidez interna. A história começa com belas perspetivas, cenários grandiosos e cores claras. Duas páginas depois, vemos tonalidades gerais mais escuras, seguidas nas páginas seguintes de tonalidades claras e assim por diante. Essas idas e vindas na paleta de cores é um recurso interessante para mostrar a descontinuidade do roteiro, além de ir plantando emoções diferentes (e um tanto incompatíveis entre si) por toda a história. Dos capítulos, A Dança do Incal é o mais “poluído”, com um número enorme de personagens novos e explosão de coadjuvantes. É o momento do volume em que passamos mais tempo observando a estrutura dos desenhos. Já nos blocos finais, Tecnociência e O Metabarão, a arte dá maior espaço para os cenários (com leves exceções, como no Covil de Amok), quadros mais “limpos” e alusões místicas que complementam o texto.
O Incal Negro é um início sensacional para uma importante saga na história dos quadrinhos. Ao fim, quando temos o link para O Incal Luminoso, percebemos que tudo o que lemos no primeiro volume foi a jornada para descobrir o outro lado da moeda, quando na verdade, acreditávamos ver a face original do objeto. Isso, ao invés de irritar o leitor, o faz sorrir de alegria para a sagacidade do texto. E se preocupar com o futuro da humanidade, dos mutantes, dos alienígenas, do Pássaro de Concreto, do Matador Cabeça de Lobo, dos Bergs e de toda a sorte de criaturas que povoam o insano e viciante Jodoverse.