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Marina Camargo

No title (Letters on the Wall)

MARINA CAMARGO

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Work: Marina Camargo se interessa pela representação. Ao trabalhar com textos, mapas e fotografias de paisagens, opera um pequeno deslocamento nessas formas de codificação do mundo, surpreendendo o observador com o desvio de seu eixo original. Nascida em 1980 e graduada em Artes Visuais pela UFRGS, ela tem formação na Akademie der Bildenden Künste de Munique com o artista Peter Kogler, na School of Visual Arts de Nova York e na Universidade de Barcelona, explorando as linguagens de vídeo, fotografia, desenho e tipografia. Inspirada por nomes como Rivane Neuenschwander, Iran do Espírito Santo, Luigi Ghirri e Fischli & Weiss, a artista traz em seu portfólio trabalhos derivados de pesquisa e viagens, do olhar atento sobre os arquivos, sobre a memória e sobre a relação entre as paisagens que a cercam – exemplo disso é Beckton Alps, projeto vencedor da Bolsa Iberê Camargo 2012. Ao pesquisar filmes sobre os Alpes durante uma temporada em Munique para seu trabalho Alpenprojekt, Marina deparou-se com Alpes inusitados – uma montanha de lixo tóxico na área de um antigo gasômetro em Londres, ironicamente apelidada pelos moradores de Beckton Alps. Com a informação guardada desde então e o desejo de usá-la em seu trabalho, a artista foi selecionada para a residência na Inglaterra, onde pôde desenvolver a pesquisa. O tempo passado na instituição inglesa Gasworks lhe rendeu os vídeos All That Falls, com imagens da região e textos de jornais da época de funcionamento, e Lost Alps, que pensa o contexto de uma paisagem artificial decorrente da indústria, além de um trabalho baseado em desenhos técnicos do funcionamento do antigo gasômetro. A pesquisa como forma de aproximar-se dos lugares é um uso recorrente no trabalho de Marina. Ao longo do ano e meio em que passou na Alemanha, ela buscou referências históricas da paisagem local, na região dos Alpes – horizonte idílico, romantizado, tão presente na cultura que beira o kitsch. Ao mesmo tempo em que adquiria postais dos Alpes nos antiquários locais, a artista percebeu a força da memória histórica relacionada ao nazismo: “Como uma memória que não pode ser esquecida nunca, como se não esquecer fosse uma obrigação social”. Refletindo sobre essas questões, com o vídeo caseiro de Hitler nos Alpes em mente, a artista passou a apagar as montanhas nessas imagens com tinta preta, abordando a impossibilidade de sua representação. Da mesma forma, trabalhou com a região dos Pampas, terra de sua família, para a mostra Além Fronteiras na 8ª Bienal do Mercosul – na qual, a convite da curadora convidada Aracy Amaral, nove artistas criaram obras inéditas com uma visão crítica da paisagem do Rio Grande do Sul. Paisagem com Ondas, em parceria com o músico Leonardo Boff, é uma música criada a partir de gráficos que desenham ondulações nos ângulos de 30º a 40º (latitudes entre as quais se encontra a região dos Pampas). Já em Lugar (Tacuarembó), a artista enterrou letras de concreto – tipicamente colocadas ao longo da estrada – para marcar o centro geográfico da região, na cidade uruguaia de mesmo nome. A volta às origens figura, também, como ponto crucial de seu próximo trabalho, intitulado Como se faz um deserto. Baseada na primeira parte de Os Sertões, de Euclides da Cunha (chamada A terra), a artista nascida em Maceió parte em agosto deste ano para explorar o sertão nordestino, em um processo de pesquisa relacionado à obra literária. O trabalho final do projeto, vencedor da Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais, consistirá em um livro, previsto para o final de 2013. Laura Schuch Texto originalmente publicado na Revista Lugares (Fundação Iberê Camargo). Uma longa tradição no campo da arte e da Estética trata de posicionar em territórios distintos a palavra e a imagem. Por vezes, a imagem é da mesma estatura que a palavra. Por vezes, é a palavra que tem o tamanho da imagem. Comparativamente, em um caso ou noutro, mesmo que em nome da igualdade, insinua-se a diferença. Os terrenos, mais do que distintos, parecem opostos. É como se ver e ler, de alguma forma, se excluíssem. Há uma parede – erguida pelo conhecimento, segundo certo poeta francês – que separa palavra e imagem. Àquele que observa, se solicita uma escolha: ou uma, ou outra. Trabalhos como os de Marina Camargo (artista que nasceu em Maceió e vive em Porto Alegre), se não chegam a derrubar essa parede, cavam uma fresta que a atravessa. Se não reconciliam palavra e imagem, se não superam o antigo debate, se não resolvem a disputa, ao menos põem em xeque a necessidade da escolha. Trabalhos como os da Marina nos lembram que um texto sobre uma folha de papel é também uma imagem. A mancha faz desenho. Mais do que isso: a linha que define a página, a borda da folha de papel, também desenha. É como se fosse uma linha de horizonte que não separasse céu e terra, mas nos alertasse para esse espaço intermediário, entre céu e terra, palavra e imagem, ver e ler. A linha – entre – nos liberta da escolha. [TEXTO PUBLICADO NA REVISTA NORTE – SEÇÃO ARTES VISUAIS, 2008] Eduardo Veras, jornalista e pesquisador.
Photographer: Marina Camargo
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Work: “Marina Camargo’s work is anchored around an ongoing investigation about the representation of various things and phenomena in the world; exposing the tensions that exist between the world we inhabit and the world that is represented to us via images and other types of material culture. Often developing projects through long-term extensive research processes, Camargo most recently has been exploring the representation of various landscapes—as images, as memories, as travel narratives, and as cartographies. Her interests highlight the impossibility of representing complete realities and locales and through her work she draws attention to the elements that are lost, silenced, and forgotten in the space between reality and representation. The work featured in this exhibition (“Oblivion – Alps”) encompasses a library of abandoned memories in the form of postcards and photographs purchased in antique shops in Germany. All of the original images depicted the Alps, and the postcards included intimate messages, and registers of their movement across time and place. Painting over the landscapes, Camargo further erases these locales while simultaneously re-rendering them with black ink. The configuration of these thoughts and gestures is assembled as a constellation in its own right; forming another imaginary landscape out of the fragmentation and incompleteness that defines our abilities to represent the world we inhabit.” CESAR GARCIA (Founder and Director of The Mistake Room, Los Angeles).

Marina Camargo’s work is focused on the everyday life perception and how it can be subtle altered by dealing with its representation. The most important in this process is the gaze to the elements that are so trivial that becomes invisible due to its constant presence. In the research process, either a conceptual reference and a material research are equally important to define what the work is going to be: a photograph, a video, an installation, a projection, a website, a typography, a collaborative project. Camargo has a Master Degree in Visual Arts (UFRGS, Federal University in Porto Alegre, Brazil, 2007), a postgraduate degree in Visual Culture (UB – University of Barcelone, Spain, 2004), and lived in Germany in 2010-2011 due to a grant from DAAD for visual artists, studying with Peter Kogler at ADBK (Akademie der Bildenden Künste, Munich). In 2012, received a grant from Fundação Iberê Camargo for a residency at GASWORKS, in London. Among the recent exhibitions are: REFLEXO DISTANTE (solo exhibition at Bolsa de Arte Gallery, Porto Alegre – Brasil); WALKING (group show curated by Giorgio Ronna, at Paço das Artes, Sao Paulo, Brasil, 2013); PLANISPHERE (solo show at Zipper Gallery, Sao Paulo, Brasil, 2012); ACIREMA (group show curated by Cesar Garcia, Honor Fraser Gallery, Los Angeles, 2012); 8. Mercosul Biennial (Porto Alegre, Brasil, 2011).
Photographer: Marina Camargo
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source: marinacamargo

Tema inconteste de interesse da arte, a paisagem permanentemente evoca a nossa relação com o paradigma da existência – a consciência da finitude aliada ao motor da vida, que é a ilusão de eternidade. Do romantismo alemão à land art, essa porção da natureza que se vê à distância ou se enfrenta enquanto ser, com peso, forma e força, está sempre reivindicando a experiência sensível como meio de arrebatamento diante da sua eloquência silenciosa.

Nem romântica, nem utópica, Marina Camargo vai até o sopé de uma das paisagens mais icônicas da história da arte, os Alpes alemães, e pressiona com força a nota mais grave de uma peça de Wagner. A série de fotografias, postais e vídeos que compõem a exposição “Reflexo Distante” não para de vibrar entre a visualidade característica desses suportes e desse tema e o negrume da história; entre a rugosidade da paisagem e a planaridade nada sutil de placas de ferro ou tinta preta, para sempre impregnada sobre fotografias e negativos fílmicos.