Nadia Kaabi-Linke
source: lostateminor
Anyone who thinks they can simply lie down briefly on a public bench is already being sabotaged: the benches are deliberately too short for this, or the public benches are being interrupted by ‘comfortable’ armrests. Into our obsession with control and security and what that can ultimately derail comes Nadia Kaabi-Linke’s impressive artwork, Parkverbot (looted art). It captures our schizophrenic Western society in a nutshell, constantly talking about values such as freedom and peace but at the same time correcting the symbol of this – the Dove – by using the tools of an animal abuser.
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source: camgulbenkianpt
Nascida em 1978 em Tunis (Tunísia), a obra de Nadia Kaabi-Linke faz-nos refletir sobre como a maior violência está precisamente naquilo que não é nem filmado nem fotografado, que não é abertura de telejornais nem faz capas de imprensa ou ocupa ecrãs de computador. Faz-nos pensar nos mecanismos invisíveis de controlo da sociedade contemporânea, desde as câmaras que nos vigiam nas cidades até aos telemóveis: somos observados e escutados sem sabermos quem nos observa e escuta.
Tunisina, filha de pai tunisino e mãe ucraniana e a viver em Berlim, onde constituiu família, Nadia Kaabi-Linke não está a tratar problemas ou temas que resultaram da pesquisa e da investigação – métodos muito comuns na prática contemporânea –, mas antes, parte da sua vivência pessoal, de uma realidade sentida e percecionada na primeira pessoa.
Mesmo quando, como em Tunisian Americans e Smooth Criminal, ambos datados de 2012, ou ainda no mais recente Sniper (2014), a artista recorre a contextos históricos passados e a conflitos que não viveu diretamente na pele, o lugar em que se coloca e coloca a sua obra é sempre o da sua própria experiência: um lugar entre culturas, entre línguas, entre países, entre poderes.
Penso que as palavras exílio ou emigração não servem para uma geração de criadores nómadas oriundos de lugares em que a criação contemporânea é mais difícil ou impossível, e que optam por viver e criar em lugares mais confortáveis e cúmplices para a produção de cultura contemporânea mas que, no entanto, nunca se esquecem de onde vieram – e isso é o mais importante: onde quer que vivam, não se esquecem de onde vieram.
Presos por fios no sentido duplo: presos ao lugar de onde vieram, em termos de memória, e história; e presos dentro do lugar em que agora vivem porque se tem que adequar a novos sistemas de vida e leis. São estrangeiros, sempre estrangeiros.
As obras de Kaabi-Linke, das esculturas ao vídeo, aliam uma sofisticação conceptual e pensante a uma sensorialidade plástica sedutora. Veja-se como a escultura Smooth Criminal é aparentemente frágil e preciosa como uma joia mas que, ficamos a saber depois – se nos quisermos informar, é claro -, foi feita por pescadores da região do Golfo para ser usada como uma armadilha para peixes.
Atraentes num primeiro olhar, estas obras instalam depois um lugar de reflexão sobre uma série de «incómodos» do mundo contemporâneo e da realidade atual: do fim das fronteiras dentro da União Europeia à campanha tunisina, do pós-colonialismo ao conflito do Médio Oriente, do holocausto à revolução na Tunísia, ficamos sempre com mais interrogações. E esperemos que também mais abertos e tolerantes, porque são obras que nos fazem pensar para além da espuma das imagens, da espuma das notícias, da espuma dos dias.