PaulaGabriela
Espaços Entre
source: rioartecultura
A ambigüidade, atributo essencial da arte, ao contrário do que seus detratores afirmam, não tem função de artifício para nos confundir, enganar, iludir, ludibriar, entorpecer. Antes, a vontade, a intenção e o propósito intrínsecos, que a imbuem e habitam, são dialéticas e pretendem nos intrigar e estimular, propor o exercício do contraditório, nos fazer ver que há, sempre, no mínimo, duas opções e possibilidades, saídas e entradas (como as da Paulagabriela), duas verdades e muitas mentiras, a absoluta veracidade da recíproca.
“Espaços entre”, diz a artista no título e por instantes ficamos sem saber se é um imperativo – ordem ou convite para, supondo estarem os espaços vazios, neles entrarmos e deles tomarmos posse e, como os sem-terra agem e fazem, ocupá-los e cultivá-los, plantar e colher para sobreviver – a humana destinação. Ou, estando eles ocupados, desalojar-lhes os atuais inquilinos (proprietários, por impróprio, prejudicado), mortos ou vivos, já que, ecoa Archimedes, dois corpos à mesma hora e no mesmo lugar “non datur”. Há, entretanto, um tertium – quem sabe, com eles ensaiar uma possível (será isso plausível?) simbiose – tal qual Paulagabriela a vivencia. A pergunta é: resultaria isso em teratogenia? Em um datado banho de sangue de feição catártica?
“Espaços entre”, diz a menina com viés adverbial e temos incontinenti a percepção tratar-se de intervalos e interstícios. Espaços entre as pernas e espaços entre os braços, espaços entre os homens e as mulheres, entre os animais humanos e animais animais, espaço entre razão e emoção. Entre os poderosos e os desprotegidos. Sim, é sabido o mundo ser descontínuo e não apenas no gritante macroscópico – na absurda obviedade dos corpos celestes a anos-luz afastados uns dos outros, mas também no micro – entre os neurônios e entre uma célula e sua vizinha; o que dizer das astronômicas distâncias que separam os prótons dos elétrons – estes, plenos de vazios e cheios de incerteza quanto à velocidade e ao topos de sua epifania?
E o que não dizer dos seres humanos e de seus corpos que, por mais que se interpenetrem e desesperadamente copulem por todos os orifícios e ejetem lambuzantes humores, os mais diversos e, por vezes, abjetos, permanecem terrivelmente sós e solitários, encapsulados por intensas camadas de gélido frio?! Na verdade, mais que o frio, o que me causou arrepio, não no pêlo da pele, mas no núcleo da medula, e ainda assim de modo extemporaneamente erótico, ao observar as fotografias da Paulagabriela, consubstanciada em dois volumes, foi a apavorante desolação de sua glacial atmosfera. Isolados em seus tubos de ensaio e casulos de hibernação, que evocam ressonâncias magnéticas e tomografias computadorizadas, andaimes de urânios apocalipses, deitados, em pé, ou suspensos, os dois sólidos mais pareciam bólidos congelados no tempo, embalsamados e mumificados, insólitos, jazendo no silêncio do tempo, sem a menor possibilidade de comunicação – Bergman diria (e aos gritos e sussurros, do irremediável “espaço entre” mim e você).
No chão, na forma de um aséptico penetrável concreto, jazia um pólipo gigante, configurado com ciclicamente vazados tetrágonos de vidro transparente, cujos braços e pernas eram penetrados por luz, como a indicar o caminho aos vermes que iriam decompor as fartas carnes. Penetrássemos também nós por qualquer um dos orifícios de suas extremidades e, gemendo e uivando de dor e de prazer, nos arrastássemos por seu interior, chegaríamos, devidamente ensangüentados, porém apaziguados, ao seu centro – uma cristalina vagina, aberta e iluminada, olhando para o céu, pronta para nos dar um novo nascimento – um re/nascimento. E para quê? Para tudo se acabar, de novo e de novo, numa triste e tediosa quarta-feira cinzenta, com as lágrimas correndo e a maquiagem escorrendo, o coração partido em milxmil estilhaços perfurocortantes. Tais as crueldades do que chamamos de Homo Sapiens Sapiens, Filho Dileto da Mãe Natureza. Bastardo não seria melhor e Madrasta não soaria mais apropriado?
Enquadre e retrate a bela moça debruçada na janela. O nome dela é Paulagabriela. Guarde-a na memória, ainda ouvirá muito dela.
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source: nyartsmagazine
Since the 1960s, many of the innovations of contemporary art, both theoretical and practical, have been indebted to feminist concerns–deconstructing traditional gender stereotypes, reclaiming images of the female body, raising consciousness. The emerging art had ideas about intersections of gender, ethnicity and class, composing a lens to view new identity, offering the possibility of the unfathomable.
As with many female artists before them (Judy Chicago, Barbara Kruger, Cindy Sherman, Jenny Holzer, Tracy Emin), the duo Paula Boechat and Gabriela Moraes’ work is highly confessional. For the past eight years they have been working together under a fused identity, paulagabriela. Their work consists of tracing a symbolic experience of union shared between them in painting, sculpture, performance, video, installation and photography, examining connection, disconnection and multiplicity.
Paulagabriela brings their own context to art, viewing it through a very personal lens. Their identities overlap and inform each other, examining the tension between the two. Ricardo Levins Morales, in his essay entitled “The Importance of Being Artist, says: “What comes naturally to the artist is exposing the most private dreams to the sunlight.” Every artist creates his or her own vocabulary, a microcosm where motifs appear and re-appear, revealing certain obsessions. For paulagabriela, fusion is at the core.
Separation of spirit from matter is a mystery, the union of spirit with matter yet another. Paulagabriela examines the essential paradox of human experience, that of a mind and body duality. Flesh or fantasy, scientific and romantic temperaments strangely blend.
Paulagabriela’s project for the Galeria Leme in Sao Paulo, Brasil is a representative illustration of their work. For the exhibition, the artists have created an installation on one of the gallery’s pierced walls. Using this surface as canvas, they “sew” through these perforations. Using red tubes, they penetrate the wall, and exceed the delineation of the space, forming a drawing of immense proportions.
Tubes, strings and pipes are always present in paulagabriela’s work, symbols used to suggest the union between the two artists. These instruments also become the means to link with the spectator, the means by which to communicate their self-representation and acknowledge a gaze.
Paulagabriela’s work is born of the urban experience and alienation, made evident in their series of photographs “Space in Between,” also presented at the gallery. The photographs are shot in the early morning or evening sunlight. The artists are portrayed nude, wrapped in infinite red coil, each isolated in her own tube. The images are charged with tension, at once erotic and visceral, against the desolation of a glacial atmosphere.
In their video “Tube/Tunnel,” paulagabriela are once again portrayed secluded, each running up and down her own tunnel continually. At one point, these images are superimposed implying the persistent endeavor to merge. In this form, a hybrid form of duality is developed, duality of flesh and spirit.
The element of ambiguity is an overwhelming characteristic of paulagabriela’s work. Nonetheless, their motivation rests not on artifice. It does not exist to confuse, trick or distort, but rather to intrigue, stimulate, open possibilities to explore. There are always two sides to a coin, a way in and a way out. Paulagabriela seeks to elaborate some new scheme of life, finding spiritualization in the senses, emulating nature in her bittersweet irony, by recreating life. Their union/connection represents life itself, the constant attempt to link soul and body, body and soul. Who can say where the fleshy impulse ceases or the psychical impulse begins? There are moments of mysterious savagery in the soul, as the body has moments of spirituality. Through natural conditions, perpetual union is impossible, hopeless, thus breeding only yearning.
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source: radar55
De tanto pensarem e trabalharem juntas, Gabriela Moraes e Paula Boechat viraram PaulaGabriela, nome da dupla de artistas que, apesar de já ter alguma estrada nas artes plásticas, faz questão de estar sempre começando. Após vários cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, o duo foi atrás de contar sua própria história. Ano passado, dividiram com os Gêmeos a assinatura da fachada do Watermill Center, em Nova York. O trabalho chamou atenção e deixou evidente o talento das moças que, apesar de não serem irmãs, vivem em incrível simbiose. Elas também adoram projetos de moda e performances. Sempre alimentando a arte com criatividade..
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source: galerialeme
As artistas criaram uma terceira identidade – PaulaGabriela – e vêem se apresentado há oito anos através de diversos tipos de mídia com forte ênfase na performance e instalações. Para a exposição, as artistas criaram uma instalação em uma das paredes da galeria onde os furos remanescentes da construção e suporte das formas de concreto do espaço foram mantidos. Através destes furos costurarão a parede da galeria com 300 metros de tubos plásticos vermelhos formando um desenho de enorme proporção que “atravessa” a parede e ultrapassa o limite delimitado pelo salão. Os tubos são sempre recorrentes no trabalho da dupla, assim como o desafio dos limites impostos seja por uma parede, ou um local improvável. O video Tube/Tunnel com imagens de Eryk Rocha, também presente na mostra foi exibido no último Salão da Bahia onde foi um dos premiados. Tubos, fios, canos são todos usados em conexões, que servem tanto para unir a dupla como uma forma delas se comunicarem com os trabalhos, o exterior, e entre elas.