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Washington Silvera

source: highlike
Work: “Observing his repertory of forms, his instrumental of objects and thoughts, we have a clearer notion of measures used in the modelation of a universe where the manual disaccelerates the anxious of the mechanical. what is noticed is the potentialization of the craft technique that, connected with new systems of sensorial integration, melts, in the moment of artistic creation, with other ways of approximation faster and safer. The intention of mobilizing the technology for the production of artistic dispositives is one of the important keys of Washingtons’s works. Articulating justpositioning, overpositioning, dislocations and types of cuts, the artistic shares with the observer an sharpened analysis of his sensations. Overcome the mythicization of the prodigious movement of application of new principles of technique and sciense, the valorization of the hand as main agent of artistic production lines up to a takem of human conscience related to concerning consequences of the vertiginous acceleration of the progress.” Text: Marcos Hill – Curator.
Image: Wooden Object 60x5x40cm Edition 1/4 2011 Private collection.
Photographer: Rafael Dabul
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source: pipaprize
Washington Silvera by Fabricio Vaz Nunes, October 2012
Italo Calvino, in Six Memos for the Next Millennium, makes a pertinent remark on objects in literary descriptions:
I would say that the moment an object appears in a narrative, it is charged with a special force and becomes like the pole of a magnetic field, a knot in the network of invisible relationships. The symbolism of an object may be more or less explicit, but it is always there. We might even say that in a narrative any object is always magic. (CALVINO, 1999: 47)*
*[translation by Patrick Creagh.]
Of course an object in literature is never the object itself, but something that is defined by a series of words – so to speak, as much a linguistic object as everything there is in literary work. In visual arts, things happen diversely, since a work of art might represent an object – a two-dimensional image of a flower vase, for example –, or be the object itself: the case of Duchamp’s ready-mades; he initiated the nowadays widely recognized practice of taking real life objects and converting them into art, by either altering its characteristics or not.
Once converted, these objects assume an especial aura: Duchamp’s famous toilet was then not a toilet anymore but turned into an especial object, taking part in the history of art and being extensively reproduced in catalogues, magazine articles, and internet sites. The objects that are made into art works thus acquire something magical: they come to belong to the world of art.
Washington Silvera’s work is all dedicated to the elaboration of these magical objects. However, unlike Duchamp (and despite his obvious influence), Washington operates on substantially altered objects. These alterations range from materials to dimensions, position in space and execution. His works take well-known objects – such as tables, rackets and hammers – and turn them into “defamiliarized” objects: though we are still able to recognize them, there is something substantially wrong with them. We could say of these objects: “it is a saw” or “it is a hammer”. However, they are defective, useless for what defines them: the saw should saw wood, but it is itself made of wood; the hammer is curved so that it can only hammer itself.
What is interesting about Silvera’s procedure is that it makes the object at the same time the object itself and its representing: the hammer is still a hammer, but it is also a hammer “sculpture”. Perhaps this is the very reason this artist does not call himself a sculptor. He is simply an object maker. But the things he makes are not common objects like the “plain” ready-mades which were shifted into art by the artist’s decision – a procedure that nowadays would be somehow academic and repetitive. Washington Silvera does not make magic objects, but rather objects which are victimized by magic: enchanted objects.
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source: pipa
Washington Silvera
Por Fabricio Vaz Nunes, outubro de 2012
Ítalo Calvino, em Seis propostas para o próximo milênio, faz uma observação pertinente sobre os objetos presentes nas descrições literárias:
“A partir do momento em que um objeto comparece numa descrição, podemos dizer que ele se carrega de uma força especial, torna-se como o pólo de um campo magnético, o nó de uma rede de correlações invisíveis. O simbolismo de um objeto pode ser mais ou menos explícito, mas existe sempre. Podemos dizer que numa narrativa um objeto é sempre um objeto mágico.” (CALVINO, 1999: 47)
É claro que um objeto, numa obra literária, nunca é o objeto ele mesmo, mas algo que se define através de uma série de palavras – um objeto, digamos, lingüístico, como aliás tudo o que existe nas obras literárias. Com as artes visuais, as coisas se passam de maneira diversa, pois a obra pode tanto representar um objeto – ser uma imagem bidimensional, por exemplo, de um vaso de flores –, quanto ser o próprio objeto: foi o caso dos ready-mades de Duchamp, que inaugurou a prática, hoje amplamente aceita, de tomar objetos reais e convertê-los em obra de arte, alterando ou não as suas características. Os objetos que são tomados como obras de arte adquirem, assim, algo de mágico: eles passam a pertencer ao mundo da arte.
A obra de Washington Silvera é toda ela dedicada à elaboração destes objetos mágicos. Porém, ao contrário de Duchamp (e apesar da sua óbvia influência), Washington opera com objetos substancialmente alterados. São alterações em termos de material, dimensão, disposição espacial, construção; suas obras tomam objetos conhecidos, como mesas, raquetes de pingue-pongue, martelos, e os transformam em objetos “estranhados”: ainda que os reconheçamos como tal, há algo de substancialmente errado com eles. Destes objetos, podemos dizer: “é um serrote”, “é um martelo” − mas são coisas defeituosas, inutilizadas por aquilo mesmo que as define: o serrote serve para serrar madeira, mas ele mesmo é feito de madeira; o martelo é curvo e só pode martelar a si mesmo.
O interessante é que o procedimento de Washington faz com que o objeto seja ao mesmo tempo o próprio objeto e a sua representação: o martelo não deixa de ser um martelo, mas também é uma “escultura” de um martelo. E talvez por isso mesmo o artista não se considere um escultor. Ele é um fabricante de objetos, simplesmente; mas de objetos que são vítimas da magia: objetos enfeitiçados.
A obra de Washington persegue esse estatuto flutuante, contraditório do objeto – simultaneamente o objeto ele-mesmo e a sua representação em condições alteradas . O “objeto enfeitiçado” vive nesse lugar, entre o real e o irreal, entre o fato e a ficção: são coisas parecem fazer parte de uma narrativa, como se fossem objetos de cena de uma série de fatos insólitos, cômicos, intrigantes. Como ferramentas, trazem a referência ao trabalho, à ação produtiva; mas, substancialmente alterados, são testemunhos de uma ação interrompida, como se víssemos um pedaço de uma história absurda que fica implícita no objeto. Na sua manipulação precisa dos materiais, na sua incorporação insólita dos elementos do cotidiano, Washington Silvera faz confundir a banalidade com o fantástico, extraindo poesia das coisas mais simples e comuns. (Fabricio Vaz Nunes é Doutorando em Estudos Literários pela UFPR, Mestre em História da Arte e da Cultura pelo IFCH/UNICAMP e Professor da Escola de Música e Belas-Artes do Paraná – EMBAP.)