RIVANE NEUENSCHWANDER
Chove chuva / Rain Rains
source: fortesvilaca
Em suas instalações, fotografias, objetos, colagens, vídeos e desenhos, Neuenschwander apresenta aos espectadores aquilo que os circunda, mas que passa quase sempre despercebido. A questão da linguagem é central em sua obra. A artista se utiliza de alfabetos, mapas, calendários e outros códigos de representação verbal e não-verbal. Freqüentemente outras pessoas são envolvidas no processo de elaboração da obra, o que torna ambígua a questão da assinatura/autoria. O próprio público pode ser responsável pela efetivação da obra, durante sua exposição.
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source: bravonlineabril
Tímida assumida, Rivane Neuenschwander negocia logo uma entrevista por e-mail e descarta a possibilidade de um retrato. Por escrito, explica que sempre teve dificuldade para se comunicar, principalmente de uma maneira mais objetiva. “Por isso são comuns os trabalhos em que trato do mal-entendido, das entrelinhas, daquilo que se quer dizer e que prescinde dos sistemas convencionais de representação de uma língua.” Entrar, portanto, no universo da artista mineira exige delicadeza. Não no sentido de que suas obras sejam fisicamente frágeis. Mas porque diante de uma peça de Rivane sempre se corre o risco de que algo fundamental escape. É preciso concentração. E também entrega. Suas criações costumam fazer um pedido ao espectador.
Na nova exposição no Galpão Fortes Vilaça, em São Paulo, há pelo menos um convite escancarado. Trata-se de Monstra Marinha, em que moedas de sal são fabricadas por um profissional em uma prensa hidráulica. Os visitantes da mostra podem levar para casa cinco modelos diferentes das esferas, cada um deles com um animal estampado, todos tirados de documentos e cartografias do século 16. Só a escolha do sal como matéria-prima já atribui ao trabalho diversas camadas de leitura: o mineral chegou a ser usado como forma de pagamento em tempos antigos e remete ainda ao próprio oceano, que o homem teve de desbravar a fim de conhecer melhor o mundo. Ao pegar uma moeda, o visitante inicia de imediato uma relação de cumplicidade com Rivane. Expostas à umidade excessiva, as esferas se desmancham. Se manuseadas sem certo cuidado, podem rachar. Mas, tirando atropelos dessa ordem, devem durar bastante. Colocando uma moeda na mão de cada espectador, a artista compartilha uma responsabilidade. É como se sussurrasse ao ouvido de seus novos parceiros: “Que destino vamos dar ao objeto?”
A individual no endereço paulistano reúne seis obras inéditas sob o título Fora de Alcance. “Isso porque todos os trabalhos da mostra lidam com a noção de distância, de uma maneira ou de outra”, explica Rivane. O tema dos espaços, tanto particulares como os divididos com os espectadores, está de fato tão presente na exposição que a peça principal chama-se A Uma Certa Distância e pode ser descrita como uma cerca que, feita de bases de concreto, tubos de ferro, cabos de aço e pedaços de madeira, orienta toda a movimentação das pessoas pelo galpão. Porém, em meio ao passeio controlado que a cerca impõe, o público vai esbarrar em criações realizadas com papel-de-arroz queimado. Tais obras remetem ao fogo, ou melhor, a um elemento nem sempre passível de controle. É mais um sussurro da artista, desta vez para lembrar que o imprevisto também tem um poder forte sobre a vida.
“Acho que o acaso e a passagem do tempo são questões recorrentes em minha produção, sim. E entremeiam outros assuntos, como a linguagem, os sistemas de representação, o afeto, a natureza e a participação dos visitantes. Na mostra do Galpão Fortes Vilaça, o acaso aparece de maneira sutil e está ligado, sobretudo, ao acidente. Já a passagem cronológica surge de forma mais contundente, seja nos pratos de tomate raspado, seja nas moedas de sal, peças mais suscetíveis ao tempo por se tratarem de materiais orgânicos”, diz Rivane. Um dos nomes mais consagrados de sua geração, a mineira de 45 anos explora diversos suportes – pintura, fotografia, escultura, desenho, instalação –, tem obras em acervos como o da Tate Modern, de Londres, e o do Macba, o Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, e participou das 50ª e 51ª edições da Bienal de Veneza. Sua exposição no New Museum de Nova York, em meados de 2010, foi aclamada pela crítica especializada e pelo público e a colocou em um novo patamar na cena artística. Se antes Rivane era muito associada à conterrânea Lygia Clark (1920-1988), graças a sua pesquisa com experiências sensoriais e interativas, a partir daí, cada vez mais, passou a se destacar por uma poética própria. “Enxergo em suas obras uma evocação comedida, porém constante, ao toque, ao cheiro ou ao gosto. É algo muito contemporâneo”, disse na época a crítica Kristin M. Jones, na revista inglesa Frieze.
Pequeno dicionário de Rivane
Três palavras que sintetizam o universo da artista mineira:
Afeto:Love Lettering, de 2002. No vídeo, peixinhos dourados nadam de um lado para o outro com delicadas bandeiras amarradas nas caudas. Nelas, leem-se fragmentos de uma carta de amor que, dependendo do movimento no aquário, pode ou não se formar.
Natureza:Rain Rains, de 2002. Graças a um sistema constituído por baldes cheios d’água e pendurados no teto, Rivane faz literalmente chover no interior do museu ou da galeria. De quatro em quatro horas, funcionários devem trocar os recipientes de lugar.
Sorte:I Wish Your Wish, de 2003. A instalação remete às fitinhas distribuídas na Igreja Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador. Só que na versão da artista as mais de 10 mil fitas trazem impressos pedidos dos visitantes, como “Eu desejo ter poderes mágicos”.
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source: beautifuldecay
Rivane Neuenschwander is a Brazillian artist who works in film, photography, sculpture, collaboration, participatory events and installation. Her work employs beautiful ideas, unpretentious materials and an inspiring vision. For I Wish Your Wish, an installation at the New Museum, Neuenschwander drew from a tradition at the São Salvador church Nosso Senhor do Bonfirm. She invited visitors to take a ribbon from the installation, tie it around their wrist, and leave it until it falls off. Once that happens their wish will come true. Or First Love, a work where a police sketch artist sits with visitors as they describe their “first loves.” The portraits were then hung in the gallery for the exhibition. Rain Rains, is a collection of leaking buckets controlled from flooding by a Sisyphean recirculation tended to by museum staff. One Thousand and One Nights is a collection of galaxy scenes that depict narrative layers of which the viewer becomes a participant. The hole-punched circles along with the frames, articulate the duration of the exhibition in calendar form. A viewer is encouraged to contemplate the idea of one thousand and one nights.
Allowing the participation of visitors, Neuenschwander blurs the boundaries that traditionally stand between artist and viewer. She instigates an idea, permitting it to discriminate via the public. Her work becomes a living, breathing mass collaboration combining nature, language and the ephemeral.