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SUSANA SOARES

Insects au Gratin

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source: susanasoares

Could eating insects be a potential solution to some of the world’s food problems?

The project looks for new ways of consuming insects and debates the nutritive and environmental aspects of insects as human food. By combining entomophagy with emerging 3D food printing technologies, Insects au gratin encourages people to consider more sustainable ways of eating.

‘Why not eat insects?’
This was the question asked by Vincent Holt in 1885, when he suggested in the St Paul Daily Globe that insects could act as a primary food source for humans. While the idea was rejected by the Victorians, insects have a long history as food in many places around the world.

As Holt pointed out, ‘insects are all vegetable feeders, clean, palatable, wholesome, and decidedly more particular in their feeding than ourselves’. They are also tremendously efficient at converting vegetation into edible protein. 100 kg of feed produces 40 kg of crickets, but only 10 kg of beef.

Insects Au Gratin looks for new ways of consuming insects and debates the nutritive and environmental aspects of insects as human food. One of the aspects that deters people from eating insects not only has to do with cultural background, but also with the aesthetics of the dishes themselves.

How it works

Edible insects are dried and grinded into powder. The insect flour is mixed with icing butter, cream cheese or water, gelling agent and flavouring to form the right consistency to go through the nozzle. The food aesthetics are designed previously, 3D printed and ready to eat or cooked.

Born in Lisbon, Portugal, 1977

Soares work explores the implications for design of the current technological redesign of nature. Her projects involve developing collaborative frameworks between design and emerging scientific research. She employs design to explore future technological implications for public engagement and awareness.



She is currently based in London, UK and is a Senior Lecturer at London South Bank University. In addition she has held research fellow positions in » IMPACT! project, at Royal College of Art and » MATERIAL BELIEFS, at Goldsmiths University of London.

After completing a BA(Hons) in Product Design from ESAD, Portugal she graduated at MA Design Interaction in Royal College of Art, London. Susana has lectured internationally and has presented her work at Networkshop (Caltech University), Los Angeles, Creative Engagement/Medi(t)ation of Survival Symposium at MOMAK, Kyoto, and Headspace – scent as design conference, organised by Parsons, MoMA & Seed magazine, New York.

Her work has been published within design and scientific publications and exhibited at the MoMA, New York, MOMAK, Kyoto, Science Gallery, Dublin, Southbank Centre, London and The Royal Institution, London. Susana’s work is in the permanent collection of MoMA, New York.



Her current research focusses on how the understanding of technological redesigned living systems can generate new frameworks for design practice.
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source: p3publicopt
Se comemos vaca, porco, frango, se comemos peixe, crustáceos e moluscos, “porque não comemos insectos?” A pergunta pode ser intrigante para grande parte da população ocidental, mas é cada vez mais uma preocupação do futuro. Quando em 2050 a população mundial atingir os nove mil milhões de habitantes previstos, é bastante provável que a solução alimentar não possa ser a mesma dos dias de hoje e que os dois biliões de pessoas que actualmente incluem insectos na sua dieta alimentar tradicional façam já parte de um grupo maior.

Susana Soares cruzou-se com o tema em 2010, numa TED Talk com o entomologista Marcel Dicke — que propunha o consumo de insectos como forma de reduzir o impacto ecológico da criação de animais e combater a fome no mundo — e soube mais sobre o assunto através de um trabalho que fez em parceria com o Pestival, um instituto do Reino Unido que incentiva as relações entre humanos e insectos. A vontade de mergulhar na área era grande, mas como podia o trabalho de uma designer ajudar a sociedade a aceitar os insectos como uma proteína alimentar tão válida como qualquer outra?

A rejeição de boa parte da população mundial por estes animais está sobretudo baseada em questões culturais (já lá vamos), mas havia outra ideia que não saía da cabeça de Susana Soares: se o aspecto visual dos insectos fosse diferente, teríamos por eles a mesma repulsa? “Achei que havia muito trabalho a fazer em termos de transformar estes insectos em algo que fosse consumido. Por isso, a minha ideia foi trabalhar a estética do alimento e mascará-los, transformá-los como qualquer outro alimento. Se nos fosse apresentado um prato com uma cabeça de um porco também quase considerávamos aquilo medieval, certo?”

O Insects au Gratin, criado no final de 2011, procura novas formas de consumir insectos e debate aspectos nutritivos e ambientais destes animais como alimento humano. Com alguns protótipos concluídos, a equipa liderada pela portuguesa e baseada em Londres está actualmente a testar os valores nutricionais de cada um dos modelos e conta, no próximo ano, conseguir comercializar os primeiros produtos.

Imprimir comida
Com farinha ou pasta de insectos feita a partir de animais desidratados é possível fazer vários patês, misturando alimentos como manteiga, chocolate, queijo creme, gelatina… Depois, para os tornar visualmente interessantes, Susana Soares recorre a uma impressora 3D, com a qual cria peças que “parecem joalharia” (“um bocado para chamar a atenção de que a comida que consumimos é muito valiosa”).

Mas, afinal, a que sabe um insecto? “É muito difícil descrever a que é que sabe o insecto se a outra pessoa não tem um termo de comparação. Há quem diga que, por exemplo, determinadas espécies de formigas sabem a limão, há quem diga que determinadas espécies de grilos sabem a galinha, mas é muito difícil de descrever”, responde a designer, numa entrevista feita via Skype.

A equipa da portuguesa — da qual também faz parte Andrew Forkes, designer-engenheiro, e Kenneth Spears, engenheiro alimentar — está também a testar a questão dos sabores: não só o que funciona melhor (Susana prefere misturas com salgados a doces), mas também de que forma se pode manipular o sabor no processo de produção dos insectos. Susana Soares explica: “Os insectos adquirem o sabor da comida que comem. Fizemos varias experiências em dar determinados alimentos aos insectos para perceber se eles ganhavam aquele sabor: alho, couve de bruxelas, etc.”

Antes do Insects au Gratin nascer, a designer também não era uma consumidora destes animais. Mas a reacção foi, “literalmente, como a qualquer outro produto”: “Tentamos fazer comparações [com outros alimentos], se tem um sabor denso, adocicado, ácido… Mas não me enojou”, sorri.

Ganha a saúde, o ambiente e a carteira…
Questões de sabor à parte, há valores nutricionais que não podem ser ignorados. Vamos a comparações? Quatro grilos têm a mesma quantidade de cálcio que um copo de leite. Os grilos têm 15% mais ferro que espinafres e a mesma quantidade de vitamina B12 que o salmão. Cem gramas de escaravelho (dung beetle) têm o dobro da proteína de 100 gramas de carne de vaca. Cem gramas de grilo têm mais do dobro de ferro do que 100 gramas de carne de vaca.

O assunto mereceu em 2013 a atenção da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que emitiu um relatório onde defendia a utilização de insectos na alimentação humana — com vantagens para a saúde, mas também para o ambiente e economia — e dava esta proteína como uma possível solução para a fome no mundo.

Estes animais são ainda apontados como um remédio para a insegurança alimentar, já que são nutritivos, têm altos níveis de proteínas, gordura e minerais, e um baixo risco de transmitirem doenças de origem animal, como a gripe das aves ou a doença das vacas loucas, pode ler-se no relatório “Insectos Comestíveis: Perspectivas Futuras para a Segurança Alimentar”.

“Para simplificar”, Susana decidiu, para já, concentrar o trabalho da sua equipa em apenas três espécies: a larva de escaravelho, o grilo e o louva a deus. Mas há mais de 1900 espécies que podem ser utilizadas como alimento, sendo as mais consumidas os escaravelhos (31%), as lagartas (18%) e as abelhas, vespas e formigas (14%).

Quando este projecto começou, os insectos eram comprados a uma empresa tailandesa. Mas, actualmente, “já há algumas empresas na Europa a produzir insectos para consumo humano”. Agora, Susana e a sua equipa compram animais a duas empresas (uma de Espanha e outra da Holanda), mas o objectivo é que eles próprios possam ter uma mini-empresa de produção no futuro, dando seguimento à experiência que já iniciaram no passado.

Sensibilizar é preciso
A questão cultural é, no entanto, uma barreira gigante à introdução destes animais na alimentação. “Há algo que contribui para que a sociedade ocidental não consuma insectos que é o facto de o insecto ser um animal nojento e ser considerado como algo que não é para comer. Temos uma reacção de rejeição”, comentou Susana Soares. É por esta realidade que a equipa liderada pela portuguesa está neste momento a preparar também uma campanha de sensibilização da população no Reino Unido.

Susana Soares acredita que os produtos da Insects au Gratin poderiam até ter uma aceitação inicial boa sem qualquer campanha (“tem a ver com o ser exótico”), mas a inclusão dos insectos na alimentação do dia-a-dia é mais complexa. “Aquilo que estamos a fazer de momento é a preparar um programa educacional a nível de escolas primárias e secundárias para envolver estas gerações, possíveis compradores no futuro. É um bocado para mudar a cultura que não é uma coisa fácil.”

A entrada no mercado será feita, provavelmente, com uma “barra que seja usada para situações de emergência”. “’Food aid’, útil quando, devido a catástrofes naturais, por exemplo, as pessoas têm de ser deslocadas de casa”, exemplificou.

A reacção que quem vai provando os petiscos feitos pela Insects au Gratin é já satisfatória (as crianças e os adultos com mais de 40 anos são os mais disponíveis para experimentar), mas é possível que melhore. A velha máxima ‘primeiro estranha-se, depois entranha-se’ será, provavelmente, a mais adequada. Afinal, recorda a FAO no seu relatório, há relativamente pouco tempo o sushi era também rejeitado por muitos ocidentais e é hoje apreciado por boa parte do mundo.